Os conceitos de ácido e base nem sempre tiverem o mesmo significado que
hoje o conhecemos. As primeiras definições de ácidos e bases eram baseadas
simplesmente nas propriedades características destas substâncias.
• Os ácidos têm
sabor azedo e têm a capacidade de fazer com que determinados corantes mudem de
cor;
• As bases têm
gosto adstringente e são escorregadias ao tacto.
Por muito tempo os cientistas tentaram relacionar as propriedades dos
ácidos e das bases com a sua composição química. Uma das primeiras tentativas
nesse sentido foi feita pelo cientista francês Antoine Lavoisier.
Lavoisier observou que as propriedades ácidas das substâncias surgiam
quando óxidos ametálicos reagiam com água, assim, Lavoisier deduziu então que
as propriedades ácidas das substâncias se deviam a presença do Oxigénio nas suas moléculas.
No entanto, em 1811, Humphry Davy, comprovou que existiam ácidos que não
continham o oxigénio na sua composição, tais como HCl, HCN, H2S,
dando assim, um golpe a teoria de Lavoisier. Davy ainda propôs que o elemento
responsável pelas propriedades ácidas das substâncias seria o Hidrogénio e não o oxigénio como pensava Lavoisier.
Entretanto, uma observação importante foi feita por Liebig em 1830. Liebig mostrou que os ácidos conhecidos continham átomos de hidrogénio que poderiam ser substituídos por um metal. Esta observação era extremamente importante pois sabe-se que existem substâncias que contêm o hidrogénio, tais como o metano, CH4, o benzeno, C6H6, etc, que não são ácidos.
Contudo, estas teorias não eram suficientes para explicar os diferentes fenómenos que eram observados.
Teoria
ácido-base de Arrhenius
A primeira teoria ácido-base utilizável foi criada pelo cientista sueco,
Svante August Arrhenius no período de 1880 – 1890.
A partir da sua
teoria denominada de Teoria de
Dissociação Electrolítica, Arrhenius, propôs a dissociação iónica de ácidos
e bases, por exemplo, HCl e NaOH da seguinte forma:
HCl(g)
+ H2O(l) → H+(aq) + Cl-(aq)
NaOH(s)
+ H2O(l) → Na+(aq) + OH-(aq)
A partir daí,
Arrhenius estabeleceu as seguintes definições de ácido e base:
• Ácido é qualquer substância que em
solução aquosa origina iões hidrogénio, H+.
• Base é qualquer substância que em
solução aquosa origina iões hidroxilo, OH-.
Limitações da Teoria
ácido-base de Arrhenius
• A teoria de
Arrhenius limita-se ao meio aquoso e não consegue explicar o comportamento
ácido-base de certas substâncias na ausência de água (meio não aquoso);
• Não explica o
comportamento ácido de certas substâncias que não possuem o hidrogénio na sua
composição, tais como, CO2, SO3, etc;
• Não explica o
comportamento básico de certas substâncias que não possuem o grupo hidroxilo na
sua composição, tais como, NH3, Na2CO3 etc.
• A teoria de Arrhenius mostrou por exemplo, que um ácido quando dissolvido em
água origina iões hidrogénio (H+);
No entanto, o ião H+ devido à carga que possui e ao seu pequeno tamanho não pode existir individualmente em solução aquosa, pois cria um intenso campo eléctrico que atrai as moléculas polares de água. Portanto, os iões H+ em presença de água hidratam-se, ou seja, são rodeados de uma ou mais moléculas de água, formando o ião hidrónio ou oxónio, H3O+:
Teoria
ácido-base de Bronsted-Lowry
Em 1923, quase simultaneamente mas trabalhando independentemente, dois
cientistas, o físico e químico dinamarquês Johannes Nicolaus Bronsted
(1879-1947) e o químico inglês Thomas Martin Lowry (1874 – 1936), propuseram
uma definição mais ampla que a de Arrhenius sobre ácidos e bases.
A definição de ácida e base de Bronsted-Lowry baseia-se no processo de
transferência de protões (H+) de uma espécie química à outra.
Segundo Bronsted-Lowry:
• Ácido é toda
espécie química (molécula ou ião) capaz de doar um protão à outra espécie
química;
• Base é toda
espécie química (molécula ou ião) capaz de receber um protão da outra espécie
química.
Portanto, na reacção: HCl + H2O → H3O+ +
Cl-
O HCl ao doar o protão à molécula de
água actua como um ácido de Bronsted-Lowry, por sua vez a água, H2O,
ao aceitar o protão doado pelo HCl, actua como uma base de Bronsted-Lowry.
A teoria de Bronsted-Lowry permite explicar a razão do amoníaco ser uma
base. Por exemplo, o amoníaco ao reagir com a água recebe um protão vindo da
água, actuando assim, como uma base:
NH3 + H2O ⇌ NH4+ + OH-
Teoria ácido-base de Lewis
Em 1923, o químico norte-americano Gilbert Newton Lewis, propôs uma teoria
ácido-base muito mais abrangente que a de Arrhenius e Bronsted-Lowry. A teoria
de Lewis baseia-se na transferência de um par de electrões de uma espécie
química à outra.
De acordo com Lewis:
• Ácido é toda
espécie química capaz de receber e compartilhar um par de electrões.
• Base é toda
espécie química capaz de doar e compartilhar um par de electrões.
Uma condição essencial para que uma espécie química actue como uma base de
Lewis é que esta deve possuir pelo menos um par de electrões livres que esteja disponível para ser doado. Por outro lado, um ácido de Lewis deve possuir
um orbital vazio capaz de acomodar o par de electrões recebido.
Por exemplo, o BF3 é um ácido de Lewis típico uma vez que o boro tem na realidade nesta molécula um orbital vazio que o possibilita receber e acomodar um par de electrões.
O BF3, por exemplo, pode
reagir com o amoníaco, NH3. O NH3 tem um par de electrões
disponível que pode doar ao BF3, assim, o NH3 é uma base
de Lewis pois é capaz de doar um par de electrões ao BF3 (que actua
como um ácido de Lewis pois recebe um par de electrões vindo do NH3).
Por: Miguel Pascoal
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